sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A expansão das universidades federais

Do Valor
Caixa das universidades federais soma R$ 20 bi
Luciano Máximo | De São Paulo
29/10/2010 

As 57 universidades federais brasileiras terminam 2010 com um caixa de R$ 19,7 bilhões - já descontado o pagamento de aposentadorias e pensões. O valor é o mais elevado em duas décadas e representa um salto de quase 120% na comparação com o orçamento verificado em 2005, de acordo com números compilados pelo professor Nelson Cardoso Amaral, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e pelo Ministério da Educação (MEC).
Os últimos cinco anos ficaram marcados pela execução das duas fases do programa federal de interiorização das instituições de ensino superior e de expansão da oferta de vagas e cursos, da contratação de professores e funcionários e dos investimentos para ampliação da infraestrutura da rede, com novos prédios de salas de aula, laboratórios e equipamentos. O aumento do orçamento das universidades sucede um longo período de estabilidade orçamentária, que durou 11 anos, entre 1995 e 2005. 

servador do desempenho orçamentário das universidades federais desde 1989, o professor Amaral lembra que, apesar da recente evolução, os recursos destinados a investimentos precisam crescer, pois são bem inferiores aos gastos com salários, aposentadorias, pensões e até manutenção. Segundo a execução orçamentária de toda a rede, dos R$ 22,1 bilhões do orçamento integral de 2009 (incluindo inativos), R$ 1,4 bilhão (6,5%) foi a rubrica capital, destinada à ampliação da infraestrutura ou aquisição de equipamentos. Folha de pagamento e inativos representam fatia que supera 80% do caixa das universidades. "Gastos com salários são importantes, porque mão de obra é a maior riqueza de uma universidade. Ainda assim, o crescimento é o maior dos últimos anos e ajudou a superar o período de estagnação no custeio e investimento durante os oito anos do governo FHC. Muitas universidades ficaram endividadas", diz Amaral.
Cálculos do acadêmico apontam que o orçamento das federais registrou ligeira queda entre 1994 e 2002, passando de R$ 9,2 bilhões para R$ 9 bilhões, já descontados inflação e gastos com inativos. Os investimentos recuaram com maior intensidade no período (de R$ 278 milhões para R$ 45 milhões), enquanto os recursos empregados em manutenção - contas de água, luz e telefone e serviços de limpeza e segurança - também caíram, de R$ 996 milhões para R$ 537 milhões.
O ex-ministro da Educação do governo FHC Paulo Renato Souza, atual secretário da Educação de São Paulo, contesta os números. Segundo ele, o levantamento do acadêmico não contempla o Programa de Modernização das Universidades Federais, que previa a concessão de créditos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de organismos internacionais para a aquisição de equipamentos. Com a iniciativa, diz Souza, a média anual de gastos com custeio em oito anos foi de R$ 1,3 bilhão.
"Não tivemos diminuição de recursos, observamos que era possível fazer mais com o que havia. Concentramos a distribuição de recursos de custeio e investimentos com base no número de alunos e cursos e, depois, criamos, o programa de estímulo à docência", ressalta Souza, destacando que havia muito desperdício na administração das universidades federais e "foi preciso instituir mais cobrança por parte do MEC".
Na opinião de Amaral, da UFG, as universidades correram um risco de queda de qualidade com a adoção da Gratificação de Estímulo à Docência (GED) na gestão de Souza no MEC, abolida em seguida, ainda quando Cristovam Buarque era ministro da Educação no governo Lula. "Ao provocar uma maior preocupação com índices de produtividade, a GED poderia ter consequências negativas, por forçar uma atuação burocrática do docente, apenas preocupado em somar pontos numa tabela que resultaria em aumento da parcela salarial", avalia.
Souza diz também que as matrículas nas universidades federais durante o governo FHC cresceram a uma taxa média anual de 6%, enquanto no governo Lula ela foi menor, de 3,2%, considerando dados até 2008. O tucano também contesta os números de formação nos cinco anos do governo Lula. "Em termos absolutos, o número de formandos caiu mesmo com toda essa derrama de dinheiro, faltou eficiência ao MEC e iniciativas de cobranças."
O MEC rebate as acusações, afirmando que foi obrigado a passar os primeiros anos de gestão "apagando fogo da expansão irresponsável" promovida nos últimos anos do governo anterior, de acordo com um dirigente do ministério. As universidades federais, acrescenta, tinham mais de R$ 2 bilhões em dívidas. "Só a Unifesp em São Paulo tinha uma única conta de água não paga de R$ 50 milhões. Além disso, o calendário universitário estava atrasado 120 dias por causa das greves e tivemos que chamar novos concursos públicos para substituir os professores temporários contratados no passado. A expansão só pôde ser iniciada depois que saldamos as dívidas com cada fornecedor, a partir de 2004", diz a fonte.
Segundo ela, se a comparação da evolução do número de matrículas levar em conta os mandatos completos de Lula e FHC, a vantagem é do primeiro. Considerando a previsão de matrículas de 2010, de 860 mil novos alunos, a expansão entre 2003 e 2010 será de 51%, enquanto que, entre 1995 e 2002, o crescimento foi de 44%.
Quanto à taxa de formação, a fonte do MEC explica que, por conta da fase de ajustes no início do mandato, o número de titulados se manteve estável e já começa a registrar crescimento. Entre 2003 e 2009, a taxa de formação cresceu 9%. "E crescerá ainda mais nos próximos anos. Segue uma lógica clara: se a expansão se intensificou em 2005, e é preciso pelo menos cinco anos para a formação, não tinha como aumentar antes de 2009." 
De Norte a Sul, campi viram canteiros de obra 
| De São Paulo 29/10/2010 
Dois anos depois da implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que injetará R$ 3 bilhões até 2012 na rede federal de ensino superior, o Ministério da Educação (MEC) contabiliza a construção de 128 novos campi universitários, que se estendem por mais de 220 cidades brasileiras. "São 3,5 milhões de m2 de área construída ou em fase de reforma em todo o Brasil", diz Maria Paula Dallari Bucci, secretária de Ensino Superior do ministério.
Reitores de todo o país ouvidos pelo Valor contaram que, depois de mais de dez anos sem investimentos significativos em ampliação, as universidades federais são consideradas "verdadeiros canteiros de obra".
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o orçamento cresceu 56% entre 2004 e 2010, para R$ 454 milhões, sem considerar pagamentos a inativos e sentenças judiciais. A adesão ao Reuni permitiu a instituição contratar 450 professores e 400 servidores a partir de 2007. O reitor Carlos Alexandre Netto informa que outros concursos estão paralisados por causa do período eleitoral. "Os dados mostram que, pela primeira vez, o Brasil vive uma política séria de apoio à educação superior. O que se demonstra é um aumento de 10% do orçamento de custeio, que paga as despesas correntes da nossa instituição, e aumento significativo de capital pelo Reuni, que garante obras, novos cursos e a entrada e permanência de novos estudantes", relata.
Pela meta do Reuni, a UFRGS já criou 750 novas vagas desde 2007 e deverá criar outras 750 até 2012. "O foco são os cursos noturnos, em todas as áreas: criamos novas vagas, principalmente nas licenciaturas, saúde e engenharias", complementa Netto. A federal gaúcha tem 34 mil alunos de graduação e pós-graduação e 5 mil professores e técnicos administrativos.
Com um vocabulário de executivo de negócios, o reitor também destaca a ampliação física da federal. "Antes era proibitivo sequer pagar a manutenção dos espaços acadêmicos, agora registramos 90 mil m2 de área construída na nossa carteira de projetos. Nos últimos anos, foram inaugurados dois prédios de sala de aula, um novo prédio está em fase adiantada e mais quatro novas unidades acadêmicas e laboratórios terão as obras iniciadas até o fim do ano", conta o reitor.
Além da infraestrutura para aulas e pesquisa, a UFRGS investe em outros setores. "Os restaurantes universitários eram mantidos com recursos próprios, agora recebemos nas rubricas orçamentárias da União. Não é pouca coisa, nas cinco unidades servimos 1,2 milhão de refeições por ano."
A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a UFPE, em Pernambuco, planejaram expansão em direção ao interior. No caso da primeira, o crescimento orçamentário, de 77% de 2004 a 2010 (para R$ 203 milhões), permitiu que antigas unidades acadêmicas provisórias - instaladas em Benjamim Constant, a mil quilômetros da sede em Manaus, na fronteira com a Colômbia e o Peru - fossem convertidas em um campus permanente.
"O campus de Benjamim Constant ganhou autonomia, passou a receber recursos específicos de pessoal, custeio e capital, que estão sendo usados para construir prédios e contratar professores e técnicos. Passaram a ter vida", afirma Albertino de Souza Carvalho, pró-reitor de planejamento e desenvolvimento institucional da Ufam. Segundo ele, a presença da universidade na pequena cidade de 25 mil habitantes do Alto Solimões era esporádica. "Tínhamos parcerias com a prefeitura para fechar alguma turma, aí a gente enviava professores para lecionar. Eles usavam as salas de aula das escolas municipais ou espaços cedidos por alguma associação."
A expansão da Ufam também chegou às cidade maiores, como Humaitá, Parintins, Coari e Itaquatiara. Carvalho diz que a escolha dos cursos nesses locais está relacionado com o perfil econômico e cultural, além das tradicionais licenciaturas, estratégia para fortalecer a educação básica. "No Alto Solimões, 70% da população é indígena, lá prevalecem os cursos de antropologia. Em Humaitá, no sul do Estado, há um grande desenvolvimento na área de grãos, então demos atenção para a criação de cursos de agronomia e engenharia ambiental. Nas outras se destacam a biodiversidade e a pecuária, o que justifica a criação de institutos acadêmicos de engenharia ambiental, saúde, biotecnologia, agronomia e zootecnia", explica o pró-reitor.
A UFPE focou grandes reformas no campus de Recife e a expansão dos campi de Caruaru e Vitória de Santo Antão. "Apenas universidades privadas ou estaduais ocupavam essas localidades, mas tinham infraestrutura muito reduzida. A presença de uma universidade federal tem um poder multiplicador para a renda das pessoas e um forte efeito de desenvolvimento regional", diz Hermino Ramos de Souza, pró-reitor de planejamento da UFPE. O orçamento da universidade nordestina cresceu 14% nos últimos sete anos, para R$ 300,9 milhões.
O reitor Edward Madureira Brasil, da Universidade Federal de Goiás (UFG), destaca a construção de novos prédios de salas de aula e laboratórios de pesquisa, obras viárias nos dois campi da capital goiana e nos de Jataí e Catalão. "Essas unidades foram contempladas com várias centros com 30, 40 salas de aula e laboratórios. A maior obra que edificamos foi um centro de eventos no campus de Goiânia, onde são feitas 100% das colações de graus, sem custo para o estudante. Além disso o espaço também é usado para a realização de feiras e congressos, gerando recursos extras para a universidade." Uma das metas da UFG no Reuni é abrir um novo campus na cidade de Goiás, antiga capital do Estado.
Os planos do pró-reitor de administração da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Manoel Fernando Martins, para cumprir as metas do Reuni é abrir cerca de mil vagas por ano até 2012. A instituição conta com orçamento de R$ 150,5 milhões neste ano. "Estamos resgatando uma dívida com a sociedade, que permaneceu intocada entre 1994 e 2004. Estamos voltando a manter estrutura do início da década de 1990, resgatando o nível de funcionamento de antes, mas ainda com muito atraso", avalia Martins. (LM) 
Em 2009, número de novos alunos aumentou 17% em relação a 2008 
| De São Paulo
29/10/2010

O Brasil pode atingir a marca de 1 milhão de matrículas no ensino superior federal em 2012, ano de conclusão do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Previsão do Ministério da Educação (MEC) aponta crescimento da oferta de vagas superior a 75% em relação aos 643,1 mil alunos matriculados em 2008, quando começou a execução do Reuni.
Números oficiais do Censo da Educação Superior 2009, que será divulgado nas próximas semanas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que foram criadas 210,2 mil vagas nas universidades federais no ano passado, o que representa crescimento de 24% sobre 2008. Com isso, a taxa de matrículas em 2009 registrou a entrada de 752,8 mil novos alunos na rede pública federal, uma alta de 17% em comparação com o ano letivo anterior. Para 2010, a previsão é que sejam registradas 860 mil matrículas (avanço de 14%), revelou uma fonte do MEC.
A taxa de formação dos estudantes reverteu queda de 2008 e voltou a crescer, embora em ritmo mais lento do que o da oferta de vagas: foram 91.576 concluintes em 2009 contra 84.034 no ano anterior, variação positiva de 9%. Na avaliação da fonte ministerial, a tendência é de aumento mais forte das graduações nos próximos anos. "O tempo médio de formação da maioria dos cursos é de 4,5 anos. À medida em o Reuni avança também deveremos registrar alguns repiques nos índices de conclusão dos universitários." (LM) 


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Pescado no Blog do Luis Nassif.



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A regulamentação da comunicação


Por Josias Pires
 

A legislação que regulamenta as comunicações/telecomunicações no Brasil (O Código Brasileiro de Telecomunicações) é de 1962. Evidentemente está ultrapassado em todos os sentidos. A lei de Imprensa que vigorou até outro dia foi promulgada pela ditadura militar em 1967. Ora, com a revolução tecnológica das últimas décadas e com as novas configurações econômicas e políticas contemporâneas, evidentemente o país precisa de um novo marco regulatório para o campo das comunicações/telecomunicações.
Todos os países do mundo regulamentam as relações dos meios de comunicação com as questões de interesse público. No Brasil, a velha mídia sempre impediu este debate, por isso as legislações não foram até agora atualizadas. Há avanços em aspectos legais da tv fechada, mas o setor é amplamente regulado por um cipoal de portarias e decretos que atendem, muitas vezes, aos interesses de empresas e não os dos usuários.
As supostas denúncias e alertas de que a esquerda pretende censurar a imprensa é um engodo, uma tentativa de paralisar o debate necessário acerca de um novo marco regulatório. Todos os estudiosos da economia política das comunicações no Brasil apontam distorções tremendas nas concessões e permissões de uso de canais de rádio e televisão. Tais distorções levaram a mais de um terço dos canais estarem nas mãos dos evangélicos e outros religiosos. Cinco famílias controlam os demais meios de comunicação de alcance nacional.
Na questão da imprensa o que precisa ser regulamentado é o direito de resposta, pois hoje um veículo pode destruir a reputação de um sujeito sem estar lastreado em provas definitivas. O direito de resposta é negligenciado pela imprensa brasileira e isto não é direito. Fora isto é mentira andarem afirmando que há interesse petista em censurar a imprensa. É a tentativa de mudar o foco do debate. A imprensa esclarecida, blogueiros e todos nós não podemos cair nesse engodo. Esta é a pauta da direita.
A modernidade brasileira passa pela democratização dos meios de comunicação. A questão da convergência tecnológico – rádio, tv, telefone e computador num mesmo aparelho – impõe a necessidade do novo marco para regular a possibilidade de entrada de novos atores no mercado de TV aberta e fechada – hoje a tv fechada é controlada sobretudo por tvs estrangeiras. A maior parte da produção é estrangeira. Uma novo marco regulatório pode e deve estimular uma maior produção brasileira nas tvs fechadas.
Uma telefônica dessas que comeram nossas empresas estatais de telecomunicações é mais poderosa do que dez redes globos. Esta é a verdade do mercado. A legislação brasileira proíbe o proprietário estrangeiro na tv aberta. Isto ainda interessa ao Brasil? Produzir conteúdo brasileiro diversificado e de alta qualidade para a mídia brasileira e para o mundo é o que interessa. Se o dinheiro é estrangeiro isto pouca diferença faz. Ou não?
E tem mais: o que está em jogo não é apenas o interesse da velha mídia em resguardar o mercado protegendo-o da força das empresas telefônicas. Um novo marco regulatório é fundamental também para a democratização da produção no sentido de facilitar a concessão e permissão de uso para os movimentos sociais – sindicatos, associações e grupos diversos que realizam atividades de relevante valor social e cultural – fortalecendo o movimento de construção solidária da sociedade brasileira.

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Pescado do blog do Luis Nassif

Compartilhamento de impressora e escâner em rede com o CUPS e Samba

Enviado por Eduardo Sierra (edusierraΘgmail·com):
“Recentemente criei um blog para documentar todas as experiências e problemas que passo no meu dia-a-dia como Analista de Suporte. Fiz uma série de 3 posts ensinando como compartilhar impressora (já com os drivers instalados no servidor) e escâner do servidor Linux em rede Windows e gostaria de compartilhar com todos: Parte 1, Parte 2 e Parte 3.” [referência: osysadmin.wordpress.com]
 
Pescado do br-Linux.org   


CNT/Sensus: Dilma lidera com 51,9% e Serra tem 36,7%

CNT/Sensus: Dilma lidera com 51,9% e Serra tem 36,7%

Publicado em 27.10.2010, às 09h57

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, tem 51,9% das intenções de voto, ante 36,7% de seu adversário, o tucano José Serra, segundo pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta manhã. A vantagem de Dilma para Serra aumentou de cinco pontos porcentuais da pesquisa anterior, na semana passada, para 15,2 pontos agora. No levantamento anterior, Dilma tinha 46,8% e Serra, 41,8%.

Ao se considerar somente os votos válidos - o que exclui nulos e brancos e se redistribui os indecisos proporcionalmente, Dilma tem 58,6% e Serra, 41,4%. A rejeição à candidata petista caiu de 35,2% da pesquisa anterior para 32,5%. Já a rejeição a Serra subiu de 39,8% para 43%.

O levantamento, com margem de erro de 2,2 pontos porcentuais, foi feito com dois mil eleitores, entre os dias 23 e 25 de outubro, em 136 municípios e foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número 37609/2010.

Fonte: Agência Estado

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quem ganha com esta campanha suja e difamatória?

Do Blog do Ricky – Sem Mais Delongas
Por Carlos Néder *
No afã de ganhar o que considera a eleição de sua vida, porque Aécio Neves está na fila e a idade já não lhe permite outras oportunidades, a campanha de José Serra desceu a níveis inimagináveis.
Impossível que tenha chegado a tal degradação sem o seu aval e de seus colaboradores mais diretos. Método que reforça na população o sentimento de que a política está superada como prática edificante, o que poderá se traduzir em níveis de abstenção e anulação de votos nunca vistos! Assim, nos perguntamos sobre quem ganha com esta campanha de tão baixo nível. Como Marina Silva disse, há o risco de perder perdendo. O que não foi o caso dela! Ou de ganhar perdendo, em termos de valores, de estatura política e de dignidade.
Se por hipótese, e mesmo após esse tipo de campanha, Serra venha a ganhar, ainda que por uma pequena margem de votos, o estrago terá consequências por um tempo que irá muito além do mandato presidencial. Um desserviço à cultura da cidadania ativa e uma profunda divisão no seio da sociedade, que levará muito tempo para cicatrizar. E aqui não se trata de um apelo para que se arrefeça o sentido da oposição ao Governo Lula ou às plataformas de Dilma, mas que ela se faça apoiada em programas, projetos e denúncias consistentes. O resvalar de sua campanha para um enfoque enviesado acerca de temas caros a quem lutou contra a ditadura militar, como direitos humanos, das mulheres, negros, dos jovens, LGBTT, dos pobres e de melhor escolaridade, para citar alguns tão em voga em sua propaganda, quase sempre anônima e apócrifa, não condiz com a imagem pública que procurou cultivar e revela, isto sim, um seu lado mais do que nebuloso: sórdido!
Falo com a legitimidade de quem vem de uma família que militou e sofreu as consequências de ter vários de seus membros presos por terem sido filiados ao Partido Comunista. E ontem como hoje, quem diria, vimos assacarem o falso argumento de que queríamos matar as criancinhas brasileiras. Falo em nome dos que dedicaram suas vidas à viabilização de políticas públicas de inclusão social, ontem caracterizadas como subversivas diante da ordem instituída e hoje como equivocadas para quem deseja um outro perfil de desenvolvimento do país, que não o adotado pela equipe de Lula e majoritariamente elogiado nas pesquisas de avaliação do seu governo. Com a credibilidade de quem, em sua atuação parlamentar, fiscalizou atos de governos do próprio PT (nas áreas de saúde, informática e outras) e de partidos adversários (Frangogate, Detran, contratos superfaturados, etc.), mas sempre apoiado em dados consistentes e sem difamar o oponente.
Dessa maneira, conclamo ambas as candidaturas presidenciais, neste 2º turno, a que o tempo restante seja utilizado para debater ideias e projetos estratégicos que dignifiquem o país e o exercício da política. E que os apoiadores de minha candidata e de milhões de outros brasileiros e brasileiras, Dilma Rousseff, não caiam no erro de reagir utilizando meios tão deploráveis quanto os do nosso adversário. Que as denúncias de práticas ilícitas, se houver, sejam assumidas à luz do dia e por quem as faz e que delas se extraiam ensinamentos para fazer avançar ainda mais a democracia no país. Que possamos dignificar a ação política e reconhecer méritos nas propostas apresentadas pelos diferentes partidos e candidatos, incluindo as que foram defendidas por Marina Silva, Plínio de Arruda Sampaio e mesmo por nosso adversário nesta fase do pleito eleitoral.
*Carlos Neder é deputado estadual pelo PT/SP

CNT/Sensus: quase 60% do eleitorado acredita na vitória de Dilma

Pesquisa CNT/Sensus, divulgada nesta quinta-feira (14), aponta vitória da candidata da coligação “Para o Brasil seguir mudando”, Dilma Rousseff, com 52,3% dos votos válidos na pesquisa estimulada, contra apenas 47,7% do candidato tucano.

Na espontânea, na qual não são citados os nomes dos candidatos, Dilma tem 44,5% das intenções de voto e Serra está com 40,4%. Brancos e nulos somaram 4%. Além disso, 59,6% do eleitorado acredita que a petista vencerá. Só 29% considera que o mesmo aconteceria com o tucano. “Essa grande expectativa de vitória sempre puxa voto na reta final, sendo favorável a Dilma”, analisa o presidente da CNT, Clésio Andrade.

Outro dois fatores foram lembrados por Andrade. O debate deste último domingo, na TV Bandeirantes, e a qualidade dos programas eleitorais. “Boa parte dos entrevistados acredita que a candidata ganhou o debate e que seu programa eleitoral na TV é o melhor”. Os dados indicam que, para 54,7% dos eleitores, Dilma saiu vitoriosa do debate e para 52,5% o programa eleitoral na TV da candidata é o melhor.

Com a divulgação de hoje da CNT/Sensus, os três maiores institutos de pesquisas do País – Ibope e Vox Populi – apontam que Dilma será eleita a próxima presidente do Brasil. Foram feitas duas mil entrevistas, entre 11 e 13 de outubro, em 136 municípios, de 24 estados. A margem de erro é de 2,2%.


http://blogdoonipresente.blogspot.com/

A psicologia de massa do fascismo à brasileira

A psicologia de massa do fascismo à brasileira


Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar. 
 
www.luisnassif.com.br

VOTE 13 - DILMA PRESIDENTE


VOTE 13 - DILMA PRESIDENTE

No Piauí, Dilma e Lula combatem as “forças do atraso”

Milhares de piauienses participaram do primeiro comício da candidata Dilma Rousseff, no Nordeste, no segundo turno das eleições presidenciais. O ato contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do candidato ao governo do Piauí, Wilson Martins, e dos governadores reeleitos do Ceará e da Bahia, Cid Gomes e Jaques Wagner.

Em seu discurso, a candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando ressaltou a necessidade do Nordeste seguir os rumos do desenvolvimento conquistados durante o governo Lula. Dilma afirmou também que sente orgulho de ter participado da construção de um país para 190 milhões de brasileiros.

Depois de darem mais de 67% dos votos no primeiro turno para a candidata Dilma, os piauienses transformaram o comício desta quarta-feira em uma grande festa.

O evento reuniu milhares de mulheres, homens e crianças. “É uma alegria estar aqui com vocês, porque aqui eu sinto o coração de vocês pulsando”, disse Dilma. Ela agradeceu os votos que teve no Piauí e ressaltou que o Nordeste é a região que mais sente como é bom ter um operário que soube trabalhar para reduzir a desigualdade do país na Presidência.

“Hoje tem gente se queixando que os nordestinos estão saindo de São Paulo e voltando para o Nordeste. Para o Piauí estão voltando muitos homens e mulheres porque agora têm oportunidades”, afirmou. “Eu tenho muito orgulho disso porque dei a minha contribuição para que a situação de desigualdade do país mudasse.”

Dilma lembrou ainda que o governo Lula levou universidades para a capital e o interior do Piauí, o que trouxe novas perspectivas de futuro à população jovem do estado.

Uma mulher na Presidência

A candidata afirmou que o povo brasileiro mostrou nas urnas no primeiro turno que quer uma mulher na Presidência do país. “Eu tive 47%, e com os 20% da Marina as mulheres receberam 67% dos votos. O Brasil quer uma mulher dirigindo o país, eu tenho imensa certeza de que com a força de vocês nós iremos eleger uma mulher.”

Ela lembrou que, no dia 31, os nordestinos deverão escolher entre continuar a ser a região que mais cresce no país ou voltar aos tempos da estagnação e do desemprego – marcas do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso e José Serra.

“Forças do atraso”

O presidente Lula também falou sobre a mudança de tratamento dado ao Nordeste e disse que apenas Dilma pode dar continuidade ao seu projeto. Ele pediu que os nordestinos não permitam o retorno das “forças do atraso” ao comando do país.

“Nós fizemos o começo de uma pequena revolução no Nordeste. Nunca a nossa autoestima esteve tão em alta quanto agora. Nunca o povo andou tanto de avião como agora”, disse Lula. “Isso não pode parar, porque a gente não pode achar que a disputa é só entre a Dilma e o candidato de lá.”

Lula disse que o povo deve eleger a única pessoa que tem compromisso com os pobres: Dilma Rousseff. “Não entreguem este país a quem não tem compromisso com o povo pobre. Com a experiência de quem ficou oito anos na Presidência eu posso dizer para o povo quem está mais preparado para governar este país. E tenho certeza de que a Dilma está infinitamente mais preparada que o nosso adversário.”

Apoios estaduais

O governador reeleito do Ceará, Cid Gomes, participou do comício no Piauí para pedir votos para Dilma. Como nordestino, ele afirmou que a candidata é a única capaz de cotinuar a obra de Lula. “Vim para dizer que o Brasil é um país desigual e que isso é culpa da política. Antes deram tudo para o Sul e nada para o Nordeste. E quem está mudando essa história é o Lula e para continuar temos que eleger a Dilma.”

O governador reeleito da Bahia, Jaques Wagner também foi ao comício para reforçar a campanha. “Eu estou aqui porque sou apaixonado pelo projeto que inauguramos em 2003. Na Bahia fizemos campanha dizendo que tem uma coisa que nos reúne, que é o projeto que fez o Bolsa Família, o Prouni, e que está resgatando a soberania do Brasil. Nós nordestinos não podemos deixar esse projeto parar nem na Bahia, nem no Piauí e nem no Brasil”.

Osmar Júnior

O deputado federal reeleito pelo PCdoB-PI, Osmar Júnior — que também participou do comício — afirmou que a campanha no estado é “forte e viva”. Segundo ele, a militância do Piauí já realizou diversas atividades nas três regiões do estado e na capital. “O comício foi extraordinário e mostrou a força da campanha no Piauí. O próprio Lula relembrou que, desde as eleições de 89, Teresina sempre trouxe muito ânimo para ele”.

Osmar Júnior reforçou a importância da eleição de Dilma e disse que os oito anos do governo Lula trouxeram mudanças significativas no combate à miséria, na educação e na infraestrutura do estado. “O Piauí sempre viveu o drama da seca, que gerava ondas de saques e obrigava as pessoas a se deslocarem do interior para a capital. A seca continua, mas com a redução das desigualdades o clima de calamidade acabou”.

Ele ressaltou ainda os investimentos na Universidade Federal do Piauí e a construção de novos Institutos Federais de Ensino — as antigas escolas técnicas. “Até o governo Lula tínhamos apenas dois institutos. Hoje temos cinco novas escolas de ensino técnico concluídas e outras cinco em construção”.

Da redação com agências
Atualizada às  15 horas

Eduardo Campos: "Dilma ganha. Vai ser uma eleição com emoção"

Eduardo Campos: "Dilma ganha. Vai ser uma eleição com emoção"

O governador eleito que teve a vitória mais avassaladora no primeiro turno das eleições, Eduardo Campos (PSB) venceu nos 184 municípios de Pernambuco, seu Estado. Neto do ex-governador Miguel Arraes e aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Campos prevê a vitória da candidata Dilma Rousseff no segundo turno, mas não se furta a fazer reparos à campanha da coligação governista no primeiro turno.

Campos diz que agora no segundo turno está concentrado na campanha para eleger Dilma. "Tenho falado sempre com a coordenação, com a própria candidata e as tarefas que tenho recebido, tenho procurado cumprir e passar para os vários companheiros do PSB. Acho que as coisas estão caminhando bem", relata.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Terra - O senhor foi o governador mais votado do Brasil nestas eleições. Venceu em todos os 184 municípios de Pernambuco e em mais de 80% desses municípios, se eu estiver errado me corrija, com mais de 90% dos votos. E, ontem à noite, foi a Granito, onde obteve 99,1% dos votos. Em um município de pouco mais de cinco mil eleitores, apenas 23 votaram contra. Como explicar isso?
Eduardo Campos - O que explica isso é o trabalho que estamos fazendo, o momento que Pernambuco vive. Na verdade, inauguramos uma forma diferente de fazer política no Estado. Que era marcado por disputas políticas muito acirradas, um tempo em que a política foi feita de maneira muito agressiva recentemente. Nós ganhamos as eleições de 2006, surpreendendo a muitos que imaginavam que nós iríamos alimentar esse tipo de política. Surpreendemos com a paz política em Pernambuco. Fomos tratar de trabalhar. Não de desqualificar nossos adversários. Fomos tratar de inovar a gestão pública, de ampliar a margem de investimentos do estado, que multiplicamos por quatro. De tirar do papel uma série de investimentos que eram o sonho de Pernambuco há muitos anos. E tudo isso foi feito dentro de um ambiente de respeito e humildade. E agora estamos colhendo o que nós plantamos.

Terra - Se imaginava a velha política, o ódio, a rivalidade, porque se imaginava que o senhor tentaria vingar a derrota do seu avô, Miguel Arraes, contra o mesmo Jarbas Vasconcelos (PMDB). Não é isso?
Eduardo Campos - Isso mesmo. Exatamente isso. Em 2006, já tivemos a oportunidade de vencer a eleição e quem comandava o palanque em 2006, o governo que terminava naquela data que sucedi, não era o governo de Mendonça (Filho) (DEM). Era o governo Jarbas. No segundo turno, Jarbas esteve mais na televisão do que o próprio candidato, o Mendonça. E nós fizemos aquele debate, do segundo turno, com muito equilíbrio. Fomos pras propostas, fomos mostrar pra onde o Brasil estava indo, as mudanças que haviam ocorrido no mundo e a necessidade de Pernambuco voltar a ter futuro. Pernambuco não viver de contar o que já tinha sido ou do ciúme dos estados vizinhos. Era hora de unir o Nordeste e embalar Pernambuco, para ele voltar a crescer. E o que está acontecendo? Crescimento com qualidade, com respeito à natureza, crescimento com inclusão social, crescimento distribuído no estado, crescimento em setores que portam ao futuro. Fazer uma grande transformação na estrutura de educação, da valorização da educação para a cidadania e para o trabalho, com investimento em ciência e tecnologia. Com inovação na gestão pública, podendo fazer com que Pernambuco possa tanto na saúde, como na segurança pública, ter programas que são de estado e inovadores. Tudo isso foi surpreendendo. Então, essa coisa de alimentar o revide, não veio, não gravou, e as pessoas sentiram isso na minha atitude. Nós não discriminamos ninguém, quem já foi discriminado como nós fomos não tolera essa discriminação. Fomos trabalhar. Plantamos e estamos colhendo os frutos de uma nova política.

Terra - O senhor teve 82% dos votos e a candidata Dilma Rousseff (PT), teve 62%. O que o senhor prevê para o segundo turno?
Eduardo Campos - Nós tivemos uma diferença da nossa votação pra votação de Dilma aqui em Pernambuco, de 700 mil votos. Destes 700 mil, 520 foram na Região Metropolitana. E na borda da Metropolitana, tá o restante dessa diferença. No interior, o voto foi muito casado...

Terra - Casado, é com os interesses locais?
Eduardo Campos - Veio muito junto. Na Região Metropolitana, na prática, tive os votos da Dilma e da Marina (Silva) (PV), que votaram praticamente nesse movimento junto conosco. O crescimento da Marina se deu nos últimos dias da campanha.

Terra - E ai, as teses são várias...
Eduardo Campos - É... Eu acho que tem dois votos muito claros que dá pra identificar, indo pra Marina. O voto da comunidade evangélica, ou até do católico mais conservador, que foi se dirigindo pra Marina. E o outro, que é um voto mais da juventude, da esquerda, da intelectualidade do Recife, de ativistas do movimento social... Que foram se distanciando por esse ou aquele motivo do PT, de Dilma. É meio que mandar um certo recado, pras pessoas terem mais humildade. Não queriam derrotar o projeto do presidente Lula. Queriam, na verdade, correção de rumo. Queriam afirmar valores que Marina passou a carregar. Uma eleição sem muita emoção. E, em algum momento, encontraram na candidatura de Marina, depositaram ali, na candidatura de Marina, uma emoção na relação com valores que ela carrega, da preservação, do cuidado com a natureza, da preocupação com a ética na política, que todos nós temos. Mas naquele momento ela expressou essa oportunidade no voto. Eu vejo um segundo turno aqui com uma grande vitória de Dilma. Acho que grande parte desse eleitorado que votou em Marina em Pernambuco, no segundo turno vai pra Dilma. Hoje, ela (Dilma) deve ter mais de 70% dos votos.

Terra - O PSB elegeu três governadores. Disputa com mais três governadores e o senhor certamente está acompanhando as pesquisas no País. Na região Norte e Nordeste, qual o quadro agora? A perspectiva?

Eduardo Campos - Eu acho que o nosso conjunto é francamente majoritário no segundo turno aqui no Nordeste. Temos dois que estão diretamente envolvidos. Na Paraíba, onde nós já viramos no primeiro turno na frente. Estamos confirmando o ex-prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), que representa, na verdade, a renovação da política da Paraíba, necessária. E outro que é no Piauí, onde já viramos na frente e estamos confirmando essa liderança. No Norte nós temos um segundo turno no Amapá, com Camilo (Capiberibe), uma jovem liderança do nosso partido que quero crer que também vai ter êxito na eleição. Acho que no Nordeste, Dilma vai ter uma votação muito expressiva, acho que a média pode apontar pra algo em torno de dois pra um. Na região toda, como uma média regional. E no Norte também vamos ter uma frente que vai se confirmar nas urnas.

Terra - Onde está o problema na região, no segundo turno?
Eduardo Campos - Em alguns estados onde a eleição estadualizou-se. Onde o posicionamento no primeiro turno, meio que estadualizou a posição da candidatura dela (Dilma). Onde ainda tem uma força mais expressiva, como em Alagoas, onde o presidente Lula perdeu eleições no passado. Resultados mais apertados como tivemos em Sergipe, na Paraíba, mas acho que a campanha do segundo turno nos dá a oportunidade de vencer nestes estados. E de ampliar a margem com os resultados que vamos colher em Pernambuco, na Bahia, no Ceará e no Maranhão.

Terra - De que forma tem retomado a campanha com os eleitores? Através da mídia? Viagens? E qual o recado? O que o senhor está dizendo pra ele?
Eduardo Campos - Na verdade, essa campanha no segundo turno, onde não tem segundo turno estadual é feita de uma maneira muito especial. Porque muitos palanques foram desmontados, a estrutura dos deputados estaduais, federais, dos próprios senadores, do governo, prefeitos... Ai a gente tem que remontar tudo. Fomos a cada uma das regiões chamando as lideranças, já fizemos reuniões no Sertão e na Região Metropolitana. Vamos fazer no Agreste pernambucano e na Zona da Mata, já na próxima semana. E a mensagem é ir pra rua. Fazer a diferença em Pernambuco, pra ajudar no Brasil. Nós tivemos no Estado muitas parcerias estratégicas, com o presidente Lula e é a hora da gente confirmar...

Terra - O senhor utiliza uma frase: não me tome com uma mão...
Eduardo Campos - Isso foi na eleição. Quando terminou a votação, a apuração, que o nosso adversário reconheceu a derrota, sai para ir até o Marco Zero da cidade do Recife, uma grande praça onde se faz as atividades políticas mais expressivas e é tradicional ir lá, agradecer a multidão de pessoas e militantes, que ficam acompanhando o resultado das eleições. Quando cheguei lá, recebi vários cumprimentos, mas antes de ir para o palanque, um senhor me abraçou, cumprimentou pela vitória e disse: Eduardo, fica tranquilo. Porque o povo de Pernambuco não vai lhe dar essa vitória com uma mão e tomar com a outra. Quando ele disse aquilo eu disse: que frase interessante. É uma síntese.

Terra - E o que significa isso? Transpondo para o internauta do resto do Brasil?
Eduardo Campos - É você dar a oportunidade de alguém governar o estado, e não dá a oportunidade de você ter um presidente aliado. Que é tão importante para as parcerias que Pernambuco viu serem feitas com o presidente Lula. É como dar ao presidente a vitória e dar um Congresso contra, um Senado contra ou uma Câmara contra. Ou seja, a população sabe que quando todo mundo já tá ajudando em uma direção, já é difícil fazer. Já é difícil realizar. Quando fica, uns puxando pra um lado, e outros puxando pra outro, fica muito mais difícil.

Terra - No Congresso já está delineado, com uma maioria...
Eduardo Campos - Dilma terá uma maioria no Congresso muito maior que o presidente Lula teve. Por exemplo, Lula enfrentou grandes dificuldades.

Terra - Há quem veja isso como salutar. Se eventualmente o candidato José Serra (PSDB) ganhar. Um equilíbrio de poderes. O senhor acredita nisso?
Eduardo Campos - Sinceramente, se alguém deseja defender a candidatura de Serra, que não use esse argumento. Até porque a história tem nos dito que a base de sustentação parlamentar tem sido muito importante para o êxito dos governos. Mesmo que o parlamento viva no mundo inteiro, e no Brasil também, uma crise de identidade, que é necessário ser discutida, a relação do poder executivo com o parlamento precisa mudar sua natureza. Precisamos deixar de ter a relação do executivo com parlamento na base dos cargos. A participação deve-se dar pela eficiência, pelo resultado das ações que valorizem o mandato. As funções parlamentares são duas, as principais funções. Uma: que é da representação. E a outra que é da fiscalização. A da representação, na medida que a democracia amadurece, que a sociedade se organiza, que os meios de comunicação e as ferramentas de comunicação são ampliadas, as pessoas podem através da ouvidoria, órgãos, ampliar suas opiniões, os conselhos são ampliados e a sociedade exige cada vez mais representação.

Terra - Há um descompasso entre a quantidade e a velocidade de meios; não que se deva se render aos meios, mas há a possibilidade de se manifestar muito mais rápido e o parlamento, ainda no século XIX...
Eduardo Campos - Isso, regras que fazem que as votações se arrastem, se alguém tem interesse, por horas e horas. Você interdita decisões que estão na ordem do dia e que você necessariamente... Precisa rever, precisa rever. Essa é a crise da representação. E a outra, que é a crise do controle. Da fiscalização. Porque os órgãos de controle, sejam eles do controle externo, como por exemplo, o próprio Tribunal de Contas da União, Tribunal de Contas dos estados, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, eles foram se capacitando... A democracia deu estruturação à criação desses órgãos, que ganharam carreira, pessoas, profissionais que passaram no concurso e são qualificadas... Na verdade, a parte que mais funciona no serviço público. Eles passaram a exercer essa fiscalização com muito mais capacidade técnica que o próprio parlamento. Então, você tem duas crises que precisam ser observadas. A crise da representação e a crise da fiscalização pra fazer o controle. E ai, outra questão que coloca essas duas questões em xeque, que é a relação que o Legislativo tem com o Executivo. O voto do parlamento é muitas vezes dado na função do fazer, da função executiva, mais do que a representação. E isso exige uma reforma política séria no País, pra aproximar a política do povo.

Terra - Mas esse é o discurso de toda eleição. Vamos fazer a reforma política, vamos fazer a reforma política...
Eduardo Campos - Sabe por que não faz? Porque quer fazer para a próxima eleição. Quem vai votar, olha pra norma e diz: essa é melhor ou pior pra mim? Agora, quando a gente pensar em fazer uma reforma política pra próxima década, e uma reforma tributária pra próxima década, a gente vai fazer. E não vai chegar na próxima década com essa mesma conversa, que já tem duas décadas.

Terra - Mas como é que se faz?
Eduardo Campos - Com um pacto político, um pacto político. Podendo compreender que um País do tamanho do Brasil, com a importância e conceito internacional que o Brasil tem, com o relevo que nossa economia ganha pra o mundo, não pode ter um sistema tributário como esse. Que é vergonhoso. Que inibe a geração de emprego, que onera a produção, o investimento... A gente não pode ter também uma democracia tão jovem - afinal de contas, de 1989 pra cá são 21 anos que votamos pra presidente da República - e a cada ano temos uma legislação. Quando não tem uma legislação, tem uma resolução do TSE. Ou seja, quem tem responsabilidade com isso são os políticos, que precisam fazer uma reforma política decente, adequada, que valorize a cidadania, a proximidade da política com o povo. Acho que é possível fazer. Outros países fizeram, porque o Brasil que já fez reformas tão importantes não pode fazer essa?

Terra - O senhor tem conversado, suponho, com o comando de campanha da candidata Dilma. Tem palpitado? O que você acha que deve ser corrigido nesse segundo turno? Seja na campanha específica, no discurso, na televisão... Onde você acha que está pegando?
Eduardo Campos - No primeiro dia eu já fui chamado pra participar daquela reunião. Acho que foi muito pouco, porque foi uma visão geral do Brasil, muitas pessoas falaram... E logo ali eu disse: olha, agora é a hora de centrar o comando, as informações foram passadas, mas não podemos ficar toda a hora ficar dando um palpite. E a gente termina atrapalhando, né? Nós falamos naquele primeiro momento e acho que muita coisa que observamos a gente já vê de mudança. E tenho falado sempre com a coordenação, com a própria candidata e as tarefas que tenho recebido, tenho procurado cumprir e passar para os vários companheiros do PSB. Acho que as coisas estão caminhando bem.

Terra - Tem visto o programa de televisão?
Eduardo Campos - Tenho.

Terra - O que acha?
Eduardo Campos - Acho que o programa foi muito bom no primeiro turno, melhorou no segundo turno, porque botou mais rua, mais emoção, mais proximidade e tem mais tempo também... Agora...

Terra - Tem gente se queixando também da ausência do presidente Lula. Dizem que tem uma dicotomia ai. Ou a candidata se constrói sozinha, com a ausência absoluta e total dele ou se vive esse dilema. Isso existe mesmo?
Eduardo Campos - Eu acho que como diz o ditado: nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Acho que é preciso ter dos dois. No Brasil, a gente viu que teve muito disso na ida ao segundo turno, a associação de Dilma com a sociedade brasileira, com a grande massa dos brasileiros e brasileiras, era uma relação muito recente. Nós que conhecíamos ela, trabalhei com ela e sabia da capacidade dela, da disposição, da coragem, do preparo técnico... Mas muitas pessoas conheciam a Dilma de oito meses pra cá. Menos que uma gestação. Então, queriam conhecer um pouco mais. Foram tantos os bombardeios que ela sofreu... O que não é novidade. Porque o Lula sofreu com isso, Getúlio (Vargas) passou por isso, o Juscelino (Kubistchek) passou por isso, no plano local, a gente viu outras lideranças passarem por isso... Então, era um desejo de conhecer mais e é importante que o guia mostre sua história...

Terra - O guia é o horário eleitoral no "pernambuquês".
Eduardo Campos - É (risos). É importante que o programa eleitoral mostre essa trajetória dela, a capacidade, a forma espontânea dela falar... Isso é muito importante. A relação dela na rua, como as crianças cuidam dela, como os mais velhos, os mais jovens já expressam sua esperança na candidatura dela. E é muito importante ter o presidente Lula, que é o avalista, né? O avalista diante do povo, da Dilma. Nós avalizamos também. Mas o grande avalista é o presidente Lula e é fundamental que ele entre e fale, fale não só com a razão, mas fale com o coração e diga ao Brasil o que ele nos disse lá no início, quando defendeu o nome de Dilma para que todos nós pudéssemos apoiar.

Terra - O senhor falou em "campanha fascista", logo ao final do primeiro turno. Objetivamente, o que o senhor quis dizer com isso?
Eduardo Campos - Uma campanha que invadiu a privacidade, com mentiras sobre a vida pessoal de candidatos. Isso é insuportável. O século XXI tá ai e sou de uma geração que não quer cometer os mesmos erros que outras cometeram. Que a gente possa fazer algo que melhore, pra que a próxima (geração) venha, e melhore mais ainda. A gente não pode ficar calado, a gente que tem responsabilidade, nós que lutamos pela democracia, que prezamos valores importantes pra vida pública, não podemos assistir a juventude brasileira ser bombardeada com campanhas que invadem a privacidade de candidato A ou B. Não faço isso. Porque enfrentei uma campanha dura no meu estado, sempre estive aqui mantendo a coerência do que estou dizendo e que estou falando. Fui atacado durante toda a campanha e não fui pra baixaria. E tive um resultado que foi o maior da história de Pernambuco, o maior da história de eleições para um governo de estado, exatamente porque tive a capacidade de repudiar esse tipo de política.

Terra - Ela (Dilma) teria sido vítima de uma campanha fascista?
Eduardo Campos - Sim, sim.

Terra - Isso leva à outra frase sua que eu li: "a briga com a mídia foi uma briga errada".
Eduardo Campos - Eu acho. Eu acho e disse isso. Disso isso à coordenação da campanha de Dilma e disse isso na reunião com o presidente da República. Um valor fundamental para a maturação da democracia, que nós todos somos responsáveis por ela, que é um valor que distingue um país no conceito internacional de outras nações emergentes que é: o Brasil tem uma democracia. Tem instituições que têm procurado funcionar pra resolver esses problemas. Não são ideais? Não. Tem muita falha? Tem. Mas nós temos uma democracia que nos custou caro e que a gente precisa aperfeiçoar a cada dia. Um dos valores dessa democracia é a liberdade de imprensa. Liberdade de imprensa para que muitos órgãos e veículos, meios... Assumam inclusive um lado na política.

Terra - Essa foi a observação que o presidente fez. Mais ou menos, ele disse o seguinte: que na verdade, grande parte da imprensa tem lado, não se manifesta como tal objetivamente, e com subterfúgios, joga o jogo. O senhor concorda com essa concepção?
Eduardo Campos - Alguns assumem claramente. Você viu veículos que fizeram editoriais e assumiram.

Terra - Sim. O Estadão fez, a Carta Capital fez...
Eduardo Campos - Acho que isso já é sinal de outros tempos, o sinal da maturidade... O Estadão fez, a Carta Capital fez... Agora, acho que esse debate foi proposto por que? Porque foi colocado dentro de uma reta final de campanha, no calor de uma paixão política...

Terra - Onde não se tem como ganhar...
Eduardo Campos - Onde não se tem como ganhar. Não se tem como ganhar esse debate. É um debate que o País deve travar com muita maturidade, até porque, a sociedade brasileira também pode se expressar reclamando de um veículo ou criticando um veículo. Do mesmo jeito que o veículo tem a liberdade e deve ter, que eu vou morrer defendendo essa liberdade de expressar sua opinião contra as minhas convicções, eu também posso expressar minha opinião. A respeito do resultado e tal... Agora, eu acho que naquela oportunidade, estávamos apontando pra ganhar a eleição no primeiro turno, tendo construído uma candidata que nunca foi candidata antes. Até então. Estávamos tendo uma grande votação para os governos estaduais, como tivemos. De senadores, de deputados... Aquilo pareceu algo que... aparentava sapato alto. E ai, como você sabe, tem o fato e tem a versão. O que ficou da impressão era que não era o debate sobre a imprensa, sobre o papel informativo, conceitual e tal. Foi vendido como uma forma de calar. E ai, ninguém vai defender algo que cale, que empastele, que engesse a liberdade de imprensa. Porque foi com a liberdade de imprensa que nós construímos a democracia...

Terra - Mesmo que a realidade possa ser até outra.
Eduardo Campos - Ser outra. Ai é outro debate. Um debate que deve seguir. Mas não vamos fazer esse debate na porta de uma eleição.

Terra - Foi posta também nessa eleição uma questão geracional. O senhor foi eleito o governador mais bem votado, o Aécio Neves (PSDB-MG) teve uma votação para o Senado excepcional, elegeu o Itamar Franco senador, o Beto Richa (PSDB-PR), o mesmo com o Tarso Genro (PT), no Rio Grande do Sul... Qual o quadro que o senhor vê para o futuro mais próximo?
Eduardo Campos - Eu acho que a geração pós-64, os filhos já da democracia, estão chegando à cena brasileira. À cena dos estados e devem chegar trazendo inovação. Carregando valores que vêm lá de trás, de justiça, de equilíbrio, de respeito à cultura brasileira, da identidade nacional... Mas que deve também trazer preocupações que são da pauta mais atual, como crescer respeitando a natureza, como garantir a transparência da gestão pública... Profissionalismo e gestão que são duas questões importantes, como aliar a gestão e o profissionalismo na gestão, com a capacidade de fazer o povo participar e ouvir o povo no que é prioridade. Ou seja, isso são questões que vão estar na ordem do dia do Brasil que cresce em importância no conceito internacional. Um Brasil que quer efetivamente buscar a construção de grandes consensos nacionais que embale o projeto de nação, que é muito maior que projetos de partidos ou projetos de pessoas.

Terra - A eleição do Serra significaria certamente uma pedra nesse caminho (da nova geração). E a eleição da Dilma, evidentemente, acacianamente, uma outra coisa (no mesmo sentido). O que significaria uma eleição ou a outra em sua percepção?
Eduardo Campos - Acho que as pessoas muitas vezes, na política, os quadros políticos, podem representar aquilo que não desejam, não é? Porque não imaginam que vão representar. Eu digo isso porque o Serra é um brasileiro que todos nós respeitamos. Sabemos da história, do preparo técnico de Serra, sabemos que ele ajudou, como tantas outras lideranças, às lutas do Brasil pela redemocratização... Mas hoje o que ele representa é bem diferente do que Dilma representa. Dilma representa um projeto de continuidade de modelo de desenvolvimento nacional, de crescimento com inclusão. De possibilidade de inserção soberana do País e possibilidade de termos crescimento econômico bem distribuído no território nacional. Possibilidade de participação da sociedade organizada na decisão de governo, na possibilidade de avançar ainda mais no que Lula pode, do ponto de vista da gestão... A gente tem a compreensão que é isso que Dilma representa. Veja Bob, o Brasil conseguiu com grande esforço a estabilidade econômica, o fim da inflação. Que durante duas décadas matou o crescimento dos trabalhadores, da possibilidade de crescimento do País. A gente percebe que o fim da inflação não foi suficiente pra colocar o País em um novo ciclo de crescimento e desenvolvimento econômico. O que possibilitou isso foi a redução da desigualdade. A desigualdade é uma questão que Dilma coloca como centro do seu debate político. A sua intervenção foi e ainda é o grande freio na economia brasileira. Um país como esse tem que contar com seu mercado interno. E não vai se fazer mercado interno sem gerar oportunidade, aumentar o número de pessoas que podem empreender ou se empregar. É aumentar o financiamento à produção no Brasil, aumentar a inclusão do caminho da educação, da capacitação técnica... Então, vejo claramente que o projeto de Dilma é um projeto que aponta pra o futuro. Você sabe que o processo decisório, de eleição, mexe com dois sentimentos: saudade e esperança. E eu não vejo saudade em relação ao que foi o governo de Fernando Henrique e que o Serra participou. E aqui, não sou daqueles que dizem que o governo Fernando Henrique só teve equívoco, de jeito nenhum. Tem muitos equívocos, mas vamos ver naquele tempo social. Teve um significado ali. Teve erros ali que podemos apontar, mas também teve acertos. Mas nós percebemos que não tem essa saudade. E quem mexe com a esperança? Acho que quem mexe com a esperança de poder ir além do que Lula pode ir é a Dilma, e as forças que a apoiam. E espero que Dilma faça um governo mais inovador, que Dilma possa fazer um governo que reconstrua o fundamento da relação com o aparelho de estado, o governo, o Executivo e os partidos políticos. Uma parte desses votos que Marina teve, da estudantada, da juventude, ela teve afirmando a necessidade de uma mudança nesse padrão.

Terra - De alguma forma, por mais absurdo que possa parecer a tese, os votos do Tiririca significam também uma satirização do que há na política? O Tiririca, os tiriricas?
Eduardo Campos - É... É um voto claro de protesto. Não é? Entendo como um voto de protesto. Mas já vivemos em outras eleições a expressão desse voto também assim. Mas também tem muita gente que foi eleita com qualidade, com militância, com correção, dedicação à causa pública, com envolvimento nas lutas do campo, na cidade... Pessoas que são guardiões dessa oportunidade de mudar a política pra melhor. De limpar a política com o voto.

Terra - Podemos dizer que o voto no Tiririca foi um chute no balde, um alerta, não é? Eventualmente, o Tiririca pode ser até um bom parlamentar. Não estou desqualificando o voto.
Eduardo Campos - É a expressão de um protesto. De um grito de alerta. Esse grito de alerta pode, e deve ser ouvido por quem tem responsabilidade. E acho que todos nós podemos dar uma contribuição para ser melhor. Na política quando a gente deixa de sonhar, a gente perde a razão de estar fazendo a política. Eu acho que pode ser melhor. Eu não acho que está bom e que aqui pode parar. A gente pode fazer política contando com a participação de mais pessoas, que fazem a política com decência.

Terra - Reabrir a porta pra quem está se afastando da política...
Eduardo Campos - Trazer de volta. Ver as pessoas... Muitas vezes eu me pergunto: tem pessoas na oposição que guardam os valores que nós guardamos, e muitas vezes a gente se vê obrigado, ou se vê na aliança com pessoas que não têm tanta identidade assim conosco. Por que? Por que não dialogar e juntar os bons? Acho que é chegada a hora de fazer essa pergunta. Juntar os bons do Brasil.

Terra - Falando nisso, o senhor agora governador e o senador Aécio caminharão juntos? Em algum momento? Em um futuro próximo?
Eduardo Campos - Já caminhei ao lado de Aécio muitas vezes. Caminhei ao lado, quando ele acompanhava o avô dele e eu acompanhava o meu avô, e a gente não apitava muito, só ficava ali prestando atenção. Você se lembra disso. Depois caminhamos como parlamentares, como deputados juntos. Eu participei da conspiração - vamos dizer assim, já que se trata de mineiro - da articulação para que Aécio fosse presidente da Câmara e ele foi um belíssimo presidente. Naquela época eu era oposição ao governo Fernando Henrique, mas fiz com muito prazer a campanha dele para presidente da Câmara e não me arrependo. Pelo contrário, tenho muita boa recordação daquela época que levou Aécio à presidência da Câmara e dali pode ele seguir seu destino e ser governador de Minas, e ser um bom governador de Minas. O meu partido passou a apoiar o governo dele, ele teve um gesto, junto com (Fernando) Pimentel (PT), com o nosso partido... Juntaram pessoas que não eram do mesmo conjunto político. Ele, Aécio e Pimentel se juntaram em torno de uma candidatura do meu partido, do Márcio Lacerda, que é um belo quadro, pra tomar conta de Belo Horizonte e veja que agora, nesta eleição, votando em Dilma, fazendo campanha de Fernando Pimentel, meu partido votou em (Antônio) Anastasia (PSDB). Eu acho que a experiência de governo de Aécio em Minas Gerais, foi uma experiência que fez bem a Minas Gerais.

Terra - Você foi de Dilmasia.
Eduardo Campos - É. Vamos juntar os bons. Vamos juntar quem pode tocar pra frente e melhorar, que é o que interessa ao povo. A maioria do povo não tem partido. Não vai ser candidato a vereador, prefeito, deputado, a senador... O povo tá preocupado que a coisa melhore. Preocupado com o País. A gente pode... Isso não quer dizer que pensamos tudo da mesma forma, não é assim. Às vezes dentro do mesmo partido não se pensa... Imagine quem tem partidos diferentes. Mas tem questões, valores que podemos somar. O Brasil é muito maior que tudo isso e é chegada a hora de juntarmos as pessoas de boa vontade desse País para consolidar a entrada do Brasil no século XXI, e do nosso povo na cidadania, na escola que funciona, na saúde que precisa melhorar esse financiamento... E muitas vezes a gente alimenta brigas e disputas que dizem mais respeito à disputa pessoal, de interesse eleitoral, e que não tem nada a ver com a vida do povo.

Terra - Pra encerrar, a três semanas, quem ganha?
Eduardo Campos - Dilma ganha. Vai ser uma eleição com emoção, mas com vitória para nós.

Fonte: Terra Magazine